O ALUNO MAL-VINDO

Ao chegar à escola noite passada, com a aula preparada e a matéria na ponta da língua, percebi, logo na entrada, um bueiro destampado. Não sei por que isso me acontece, mas toda vez que vejo um bueiro aberto me lembro de ratos; tenho a sensação que daquele buraco vai, inevitavelmente, saltar um asqueroso rato.

Comecei a aula como de costume, fiz a chamada, conversei com os alunos, tudo transcorrendo normalmente. Por volta da metade de minha corriqueira preleção, notei um ser estranho passando em frente à sala e pensei: “é um rato”. Disfarcei e olhei para fora, a procura da confirmação de minha suspeita. Nada encontrei. Prossegui, explicando para a classe a importância da leitura e completei o esclarecimento com uma breve interpretação de texto. De súbito, olho para porta e vejo aquele ser que preferia não ter avistado: o rato. Estava ele, eu juro, me observando, como se quisesse dizer: “professor, desculpe o atraso; o senhor me dá a licença para assistir o restante da aula?”

Certamente com um ar desconfiado, olhei para a turma, que neste momento estava concentrada em um exercício, e constatei que ninguém havia percebido a presença daquele intruso. Caminhei rapidamente em direção à porta e tratei de enxotá-lo o mais breve possível. Logo após olhei, procurei, e acreditei que o bicho havia ido embora.

Continuei minha aula e esqueci o assunto do roedor. Após mais algumas explicações e conversas, passei um novo exercício, desta vez para que treinassem a produção textual. Vi que a turma concentrou-se na lição e, como propus um tempo maior para a realização da tarefa, resolvi me sentar um pouco para descansar as pernas após um longo dia de trabalho.

Distraído estava, quando vejo novamente o rato na porta da sala. No entanto ele não parou para me solicitar a licença: entrou desenfreado classe adentro. Naquele instante, meu coração disparou; pensei logo no alvoroço que seria se alguém percebesse a presença do metediço. Pensei em avisar a turma e preparar os homens para uma caça impiedosa. Mas, no momento que a ideia passou pela minha mente vi o diretor passando em frente à sala e achei que ele não ficaria muito contente com um “safári” fora de hora. Resolvi ficar quieto, torcendo para o animal não ser descoberto.

A partir daquele momento, fiquei olhando insistentemente para o chão, a procura do paradeiro da criaturinha. Não sei se alguém percebeu, mas perdi a concentração na aula que estava ministrando e permaneci feito um bobo com a cabeça abaixada. Vez ou outra via a sombra do rato passar de uma carteira a outra. “Rato filho da...”, pensava. Para minha sorte a aula estava em seu final e o pânico não se instaurou naquela noite. “Foi realmente sorte”, concluí.

Fui para casa lembrando-me do episódio e rindo sozinho da situação. Na manhã seguinte joguei no bicho: gato na cabeça!

 

 

 

 

Neuman Guimarães