Ser pai

                Não adianta. Você pode ser expert em vários assuntos. Ler muito; estudar exaustivamente. Pode ser uma pessoa bem informada, esclarecida. Pode discursar com maestria sobre política, economia, astrologia, culinária, física nuclear... Mas existem certas coisas que só a experiência pode ensinar. Você tem que viver aquilo para dizer como é!

                Um exemplo é ser pai. Imaginamos milhões de coisas e situações que podem ocorrer quando a paternidade nos agraciar. Mas é tudo diferente. Para começar, somos invadidos por uma confluência de emoções. Felicidade imensurável, medo inegável, paz de espírito, receio do futuro, falta de paciência, ternura... É impressionante como a vida muda. A sensação é de que somos arrancados da vida anterior e colocados em uma nova. Não que isto seja ruim. O problema é você achar que está totalmente preparado. Será que alguém que é papai pela primeira vez está plenamente pronto?

Para começar, por mais que os médicos digam “vocês é quem mandam no bebê, não ele em vocês”, como não ceder aos pequenos caprichos dessa criaturinha divina? Há também os momentos de cansaço extremo. Principalmente no primeiro mês. Claro que as experiências variam de criança para criança. No meu caso, acho que no início eu poderia ser facilmente confundido com um zumbi, desses de filme do José Mojica Marins.

Com o passar dos meses novas preocupações e indagações vão surgindo. “Doutor, é normal a criança chorar tanto?”. “Doutor, essa manchinha aqui, bem pequenininha... é, essa aí... normal?”. “Doutor, o certo é o bebê acordar uma, duas ou três vezes durante a noite?” As broncas do pediatra acabam sendo inevitáveis e nos acostumamos a ouvir que tudo isso é coisa da nossa cabeça!

Um dia desses estava conversando com um amigo que se casou na mesma época que eu e perguntei se ele não pretendia ter um filho. Ele sorriu e disse que não estava disposto a doar seu tempo e principalmente não queria aumentar substancialmente seus gastos. Este amigo foi tão enfático em suas palavras que eu nem quis contra-argumentar. Ah, se ele soubesse que quando o bebê sorri para você não há dinheiro que possa pagar! E o tempo? O tempo para...

Bom, eu poderia escrever muitas e muitas páginas sobre o assunto, mas neste momento minha filhinha está aqui no meu colo e decidi encerrar por aqui!